Castro Alves |
POEMA
Vozes d'África
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Qual Prometeu* tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia*
- Infinito: galé*! ...
Do deserto na rubra penedia*
- Infinito: galé*! ...
Por abutre - me deste o sol candente,
E a terra de Suez* - foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
E a terra de Suez* - foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
(...)
Cristo! embalde morreste sobre um monte...
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos - alimária* do universo,
Eu - pasto universal...
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos - alimária* do universo,
Eu - pasto universal...
**PROMETEU: perssonagem mitológico ao qual coube a incubência de criar o homem; por dar ao homem o dominio de fogo, foi castigado: por ordem de Zeus, foi acorrentado e levado ao Monte Cáucaso. Uma águia deveria bicar-lhe o figado eternamente; devorado durante o dia, à noite o figado se constituiria.
**PENEDIA: rocha, penedo.
**GALÉ: no contexto indivíduo setenciado a trabalhos forçados.
**SUEZ: região a nordeste do egito, que une o continente africano ao Oriente Próximo.
**ANIMÁLIA: animal de carga, besta.
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