domingo, 19 de junho de 2011

A Poesia Social

Castro Alves
Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) é o mais representativo poeta da terceira geração romântica. Fortemente influenciado por Victor Hugo, cultiva a poesia social; republicano de primeira hora, combateu a escravidão, um dos pilares em que se sustentava a Monarquia brasileira. O condor, ave que plana no alto dos Andes, foi metáfora marcante da liberdade a ser alcançada .



POEMA

Vozes d'África

Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...

Qual Prometeu* tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia*
- Infinito: galé*! ...
Por abutre - me deste o sol candente,
E a terra de Suez* - foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
(...)

Cristo! embalde morreste sobre um monte...
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos - alimária* do universo,
Eu - pasto universal...


**PROMETEU: perssonagem mitológico ao qual coube a incubência de criar o homem; por dar ao homem o dominio de fogo, foi castigado: por ordem de Zeus, foi acorrentado e levado ao Monte Cáucaso. Uma águia deveria bicar-lhe o figado eternamente; devorado durante o dia, à noite o figado se constituiria.
**PENEDIA: rocha, penedo.
**GALÉ: no contexto indivíduo setenciado a trabalhos forçados.
**SUEZ: região a nordeste do egito, que une o continente africano ao Oriente Próximo.
**ANIMÁLIA: animal de carga, besta.



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