Almeida Garret |
Poema de Amor
Não te Amo
Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
É eu n'alma - tenho calma,
A Calma - do jazigo.
Ai!, não te amo não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida nem sentida
Trago eu já comigo.
Ai!, eu não te amo não.
Ai! não te amo, não; é so te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela, e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga* estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado*
Este indigno furor.
Mas oh!, não te amo não, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar não te amo não.
Garret Almeida
**AZIAGA: de mau agouro; azarenta; infeliz.
**AZADO: propício, oportuno, próprio
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