domingo, 19 de junho de 2011

A poesia romântica - temas recorrentes

O Amor


Almeida Garret
João Batista de Almeida Garret (1799-1854) desempenhou dois papéis pioneiros na literatura portuguesa: foi o introdutor da poesia romântica e o iniciador do teatro nacional português. Garret teve uma intensa e atribulada vida sentimental, que se reflete ora num trecho de um romance, ora numa cena dramática, ora num poema. Sua obra poética da maturidade, tipicamente romântica, encontra-se nos volumes Flores sem Fruto e Folhas Caídas.


Poema de Amor


Não te Amo

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
É eu n'alma - tenho calma,
A Calma - do jazigo.        
 Ai!, não te amo não.          

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
  E a vida nem sentida
 Trago eu já comigo.
      Ai!, eu não te amo não.

Ai! não te amo, não; é so te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue devora,     
Não chega ao coração.  

             Não te amo. És bela, e eu não te amo, ó bela. 
Quem ama a aziaga* estrela
 Que lhe luz na má hora        
  Da sua perdição?               

E quero-te, e não te amo, que é forçado, 
De mau feitiço azado*   
     Este indigno furor.              
          Mas oh!, não te amo não, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto       
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...         
Mas amar não te amo não.
   
Garret Almeida




**AZIAGA: de mau agouro; azarenta; infeliz.
**AZADO: propício, oportuno, próprio

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